quinta-feira, 3 de julho de 2014

Mogno Africano e o nível de PH do solo

MOGNO AFRICANO - KHAYA NYASICA stapf. ex baker f.  (CAOBA AFRICA DEL ESTE )

O Khaya Niasyca( NYASICA)  Stapf. ex baker f. ( Caoba Africana Del Este ),  é uma grande árvore, podendo ultrapassar a 60m de altura, oriundas da Região Central, Leste e Sul da África, encontrada também em Moçambique, África do Sul, Tanzânia, Zaire, Zâmbia.

Khaya Niasyca é encontrado em solos bem drenados aluviais, é uma espécie tolerante a seca sazonal,  pode ser plantado em solos com ph a partir de 4.0 , e no máximo de 7.0,  mas obtendo os melhores resultados em terras com ph de 5.5 a 7.0,  é encontrado em de  solos de argila para arenoso. A espécie pode ser plantada desde o  nível do mar até 1400m de altitude, Ocorre na área de precipitação de verão tropicais, com estação chuvosa durante o verão, e uma seca severa no inverno. Pode ser plantado em precipitações acima de 600 mm anuais, mas tem seu desenvolvimento aumentado onde as precipitações ultrapassam 1200mm anuais.

Khaya Niasyca Del Este Africano  cresce melhor em solos aluvial profundo, úmido e bem drenado, solos ribeirinhos, com inclinação leve,  é uma variedade muito tolerante ao frio.
Aqui no Brasil cresce também nas estações de outorno e inverno, temos registrado 4 brotações neste período ( março p/ abril; maio para junho ; junho para julho , e no início de agosto . Sendo uma variedade promissora para quem pretende fazer irrigação. Também é cultivado como árvore de sombra,  e também apresenta como excelente espécie para ser consorciado com café, banana, goiaba, cacau e outras.

A madeira  do Khaya Nyasica Stpf. ex Baker f.  é quase rosa quando fresca, transformando para lustrosa castanho-avermelhado quando seco,  apropriada para mobiliário de luxo, paineis, torneados e barcos. Seu tronco é monopodial, sendo desprovido de galhos até uma altura de aproximadamente 10m, o tronco é reto e cilindrico. Outra característica importante, a espécie rebrota após o corte.

Exigências de solo do Mogno Africano

A exploração dos recursos naturais em todo o mundo teve aumento significativo principalmente a partir do século 19 devido a diversos fatores, como a industrialização. Dentre as formas de exploração destes recursos, pode-se destacar a exploração madeireira, responsável pela devastação de milhões de hectares de matas nativas em todo o mundo, sobretudo a floresta Amazônica brasileira. Na medida em que a exploração de espécies nativas foi se intensificando ao ponto de reduzir drasticamente os estoques naturais entre os anos 70 e 80 no Brasil, órgãos públicos e ambientais adotaram diversas medidas para a proteção e conservação das mesmas. Dentre as espécies arbóreas nativas exploradas intensivamente e que estão incluídas nestas medidas, pode-se destacar o Mogno (Swietenia macrophylla King), que possui madeira de grande valor comercial. Outra importante barreira para produção do mogno é a presença da praga conhecida como broca-dos-ponteiros (Hypsipyla grandella), que destrói a gema apical da árvore, provocando excessiva ramificação do tronco, o que o desvaloriza para a utilização. A fim de se garantir o mogno como patrimônio natural renovável, se adequar as políticas de conservação de espécies nativas e suprir a demanda do mercado madeireiro, uma boa alternativa encontrada é a substituição dessa madeira por espécies florestais exóticas com potencial similar em relação às propriedades físicas e mecânicas da madeira, à trabalhabilidade, aos caracteres gerais e adaptação ao território brasileiro.

Mogno Africano do gênero Khaya

Baseado no contexto acima, as espécies africanas de mogno do gênero Khaya surgem com o perfil adequado para substituição do mogno. Assim como Swietenia, o gênero Khaya pertence à família Meliaceae, sendo representado em geral por árvores de elevado porte. Esse gênero compreende quatro importantes espécies produtoras de madeiras comerciais na África continental: Khaya ivorensis, Khaya senegalensis, Khaya anthoteca e Khaya grandifoliola, além de uma no Madagascar, a Khaya madagascariensis. Estas espécies são em geral muito similares entre si, e nenhuma delas distingui-se substancialmente dos mognos americanos nas caraterísticas físicas e mecânicas da madeira e em sua morfologia externa.
Por se tratarem de espécies exóticas, podem ser plantadas como cultura comercial para exploração madeireira, além de possuírem, de maneira geral, rápido crescimento (podendo ser de até 30 a 40% superior ao mogno americano) em clima tropical, qualidade similar da madeira e serem normalmente resistentes (por não-preferência) à broca-dos-ponteiros na América. 
No Brasil, a maior parte dos plantios comerciais de mogno-africano tem sido realizada com a espécie Khaya ivorensis, devido ao fato de se terem disponíveis mais informações desta em relação às outras quatro e por maiores facilidades de aquisição de sementes e propagação vegetativa.
Khaya ivorensis A. Chev. - Características gerais
A área de ocorrência natural de Khaya ivorensis limita-se às regiões tropicais úmidas e de baixa altitude no continente Africano. São árvores de grande porte que podem atingir de até 60 m de altura e diâmetro de 2,10 m (DAP). O tronco é em geral retilíneo, apresentando fuste comercial livre de ramificações até 30 m de altura, possuindo base com grandes sapopemas que podem se elevar até cerca de 4,0 m de altura. Os frutos produzem em média 15 sementes, que são fortemente achatadas e consideradas recalcitrantes, por perderem rapidamente seu poder germinativo, o que torna bastante interessante as técnicas de propagação vegetativa da espécie.

Exigências climáticas
Khaya ivorensis é heliófila, sendo tolerante à sombra durante a fase jovem, e caducifólia quando ocorre em regiões áridas. Ocorre de forma dispersa, em florestas com precipitação média anual entre 1600 e 2500 mm e curto período seco de 4 meses. Suporta inundações durante o período de chuvas, porém não tolera longos períodos de solo seco. A temperatura na área de ocorrência natural oscila entre 24 e 27 °C, sendo a média do mês mais frio em torno de 18 °C. É importante salientar, porém, que tem demonstrado grande plasticidade no Brasil, se adaptando em vários estados da região Sudeste, Norte e, inclusive em locais sujeitos a geadas, como Sul de Minas Gerais e Santa Catarina.
Exigências de solo
Por se tratar de uma espécie heliófila, deve-se evitar o plantio em locais sombreados, causado, por exemplo, por morros laterais. Plantios de algumas árvores na Zona de Minas gerais têm mostrado que Khaya ivorensis desenvolve-se muito bem nos Latossolos Vermelho-Amarelos e também nos Argissolos Vermelho-Amarelos. Deve-se, evitar os solos muito compactados, adensados e rasos, que podem prejudicar o seu desenvolvimento radicular. Para que se evite elevados teores de alumínio (Al) trocáveis, é importante realização da calagem na área de plantio após análise.


É uma etapa do preparo do solo para cultivo na qual se aplica calcário com os objetivos de elevar os teores de cálcio e magnésio, neutralização do alumínio trivalente (elemento tóxico para as plantas) e corrigir o pH do solo, para um desenvolvimento satisfatório das culturas. 

Características da madeira

A madeira apresenta uma grande relação com as condições de crescimento das árvores, ou seja, as madeiras mais coloridas e mais densas são oriundas das estações mais secas suportadas pela espécie. Desta maneira, a cor não é um parâmetro adequado para diferenciação de espécies do gênero Khaya. A Khaya ivorensis tem, em média, características de madeira semelhantes aos mognos americanos, sendo em geral leves, com taxas de retratibilidade moderadas, de boa resistência mecânica estática, mas pouco resistentes ao choque. A sua madeira além de ser valorizada para indústria moveleira e de laminados, pode ser utilizada para produção de caixas e estojos decorativos, compensados, e molduras de janelas, painéis, portas, construção de navios e embarcações e diversas outras utilizações.
A casca externa possui variações de cor marrom e possui depressões superficiais causadas pela queda de placas quase circulares. É amarga e largamente empregada na medicina tradicional africana, no tratamento de tosses, febres, anemias, feridas, lesões, úlceras e até mesmo tumores.

Principais pragas e doenças
Broca-dos-ponteiros

Como já citado, a presença da praga Hypsipyla grandella no Brasil, conhecida como broca-dos-ponteiros, confere uma importante barreira para produção do mogno no Brasil. No continente africano, outra espécie (Hypsipyla robusta) causa os mesmos danos nas espécies de mogno africano. Os ataques e danos causados por ambas são similares, com a perda da dominância apical, o que leva a ramificações excessivas no tronco. Entretanto, até o presente momento, Hypsipyla grandella não tem atacado as espécies de Mogno-africano do gênero Khaya em território brasileiro. É uma resistência por não-preferência, ou seja, a praga não deposita os seus ovos na planta por não se sentir atraída por ela. Existem observações empíricas, de que as espécies de cedro e mogno ocorrentes na América resistem aos ataques da Hypsipyla grandella devido à associação delas com o pau d’alho (Gallesia integrifolia) no interior da floresta. Caso comprovada esta informação, o plantio consorciado de mogno-africano com o pau d’alho pode ser interessante para controle de possíveis ataques nas regiões naturais. Uma outra boa alternativa de controle e prevenção dos ataques é a presença do cedro-australiano (Toona australis) próximos ou junto aos mognos, pois tem sido constantemente observado que as larvas de Hypsipyla grandella ao se alimentarem dos brotos terminais desta espécie, morrem totalmente devido à substâncias tóxicas presentes. É muito importante salientar que, se tratando de uma resistência por não-preferência, devem ser realizados monitoramentos constantes dos ataques, para que medidas sejam tomadas para prevenção de ataques severos.

Cancro de córtice ou da casca

Esta doença é causada fora do habitat natural de Khaya por um fungo denominado Lasiodiplodia theobromae, que em condições de alta umidade, causa lesões circulares e salientes que evoluem posteriormente, até formarem-se áreas tumorosas e dilaceradas, conferindo à planta um aspecto negro com lesões tumorais. Em Khaya ivorensis, o aparecimento desta doença ocorre a partir dos 2 anos de idade na casca e suas lesões não afetam a qualidade da madeira e não impede o seu uso. Porém, o controle deve ser feito quando as lesões começarem a aparecer, pois apesar de não causarem a morte da árvore, estes ataques podem reduzir drasticamente o fluxo de seiva na casca, causando desfolhamento progressivo, comprometendo o crescimento vegetativo e, até mesmo a frutificação e a produção de sementes. O controle pode ser feito aplicando se, com um pincel, o Hipoclorito de Sódio (Água Sanitária) a 2,5%, ou Calda Bordaleza. A reincidência, após o controle, ainda não foi constatada.
Outras pragas e doenças
Outras doenças e pragas possivelmente observadas em Khaya ivorensis são a mancha areolada das folhas (Thanatephorus cucumeris), podridão branca da raiz (Rigidoporus lignosos), cercosporiose (Cercospora sp.), Fusarium sp., abelhas cachorro (Apidae), formigas cortadeiras saúvas (Atta spp.) e Quém-quém (Acromirmex spp.), broca do pecíolo (Xylosandros sp), dentre outras.

Plantio e manejo de Khaya ivorensis

O percentual de germinação das sementes frescas de Khaya ivorensis é de cerca de 90%, porém passa a cair rapidamente em cerca de 2 semanas. A germinação é lenta e pode levar em torno de 11 a 40 dias. Desta forma, a produção de mudas clonais através de enxertia em viveiro se torna uma boa alternativa, além de se obter em média maiores produções. No viveiro, um sombreamento moderado é vantajoso para mudas de até dois anos de idade. O plantio deve ser feito utilizando-se covas de 40 x 40 x 40 cm, com adubação e calagem feitas de acordo com a análise do solo. O controle de plantas daninhas deve ser feito em volta das árvores principalmente nos primeiros anos de plantio.
No Brasil, a introdução da espécie é relativamente recente quando comparada a outros países, e desta maneira, experimentos ainda não foram suficientemente conduzidos para que se tenha uma consistente indicação em relação ao preparo do solo e plantio. Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Mogno Africano (ABPMA) em 2013, plantios realizados na Fazenda Atlântica Agropecuária (atualmente com 800 ha de Khaya ivorensis  plantados), localizada em Pirapora-MG, têm demonstrado bons resultados conduzidos da seguinte maneira:
- Preparo/correção: área total, calcário dolomítico 1 ton/ha em aplicação única, 30 dias pré plantio.
- Plantio realizado em sulco seguido cova, espaçamento 6 x 6 m., 4 litros de esterco de galinha/cova.
- Capinas manuais e roçadeira nas entrelinhas de plantio e herbicida residual na linha
- Adubação mineral de cobertura: 500 kg/ha (19-04-10 com micros) + fertirrigação + foliares
O espaçamento 6x6 m tem sido mais adotado, o que considerando perdas naturais, chega-se a um número médio de 264 árvores/ha. O primeiro desbaste com o corte de metade das árvores, de um plantio bem conduzido, poderá ser realizado nos anos 11 e 12 e os cortes finais nos anos 16 e 17. Com estes dados e através da memória de cálculo, pode-se chegar a uma produtividade total de 161,304 m³ de madeira serrada/ha. É importante salientar que estes números são apenas perspectivas gerais, podendo variar de acordo com a região e principalmente condução do plantio.
Plantios mistos de Khaya ivorensis com outras espécies florestais como Jacarandá-da-Bahia (Dalbergia nigra), Ipê-Amarelo (Tabebuia serratifolia), Peroba-do-Campo (Paratecoma peroba), Peroba-Rosa (Aspidosperma polyneuron) e a Pimenta-do-reino (Piper nigrum) em sistemas agroflorestais indicam serem potenciais, mas ainda carecem de experimentos e pesquisas mais aprofundadas.

Conclusões

Khaya ivorensis tem despertado um grande interesse devido as diversas características apresentadas, tais como crescimento relativamente rápido, alto valor econômico da madeira, adaptabilidade ao território brasileiro, além de ser uma das melhores espécies de mogno africano para cultivo. Porém, são necessárias mais pesquisas sobre sistemas apropriados de manejo em floresta natural para assegurar uma exploração sustentável, de manejo e controle do ataque da Hypsipyla grandella, de sistemas agroflorestais e consórcio com outras espécies nativas e exóticas, de adubação outras técnicas de manejo, etc.
Estudos mais aprofundados de resistência e melhoramento genético, como ampliação da base genética com a importação de sementes da África, estudos de qualidade da madeira sob irrigação e adubação também se tornam importantes para melhorar ainda mais o desempenho da espécie, que já se mostra grande em um mercado promissor para a mesma.


Para informações mais detalhadas sobre Khaya ivorensis e outras espécies, o livro “Ecologia, Silvicultura e Tecnologia de Utilização dos Mognos-africanos (Khaya spp.)” pode ser adquirido com:
Professor Antônio Lelis Pinheiro. E-mails: pinheiroufv@gmail.com e pindendrol@gmail.com
Artigo publicado na 45ª edição (Ago/Set 2013) da revista ProCampo
por Daniel Teixeira Pinheiro1 e Antônio Lelis Pinheiro2
1 Eng° Agrônomo, Mestrando em Fitotecnia - Universidade Federal de 
Viçosa (UFV) – pinheiroagroufv@gmail.com 
2 Eng° Florestal, Professor Associado – Dep. De Engenharia Florestal
Universidade Federal de Viçosa (UFV) – pinheiroufv@gmail.com 
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